sexta-feira, 13 de junho de 2014

O que cabelo tem a ver com racismo?

Hoje me deparei com o seguinte comentário nessa rede social de meu Deus: "O que tem a ver racismo com mandar a Blue Ivy pentear o cabelo?"

Bom, vamos por partes né? Embora muita gente não saiba (nem sei se ela sabe), mas a Beyoncé é negra (OOOHHH). Sério, ela não é moreninha, café com leite, queimadinha, mulata e outros eufemismos que vocês acham interessante usar porque acham que é muito pesado dizer que uma pessoa é de fato NEGRA. Jay Z também, mas isso ninguém discute porque a negritude dele é indisfarçável.
Logo, Blue Ivy nasceu com cabelos crespos... cabelos esses que crescem pra cima e acreditem não há nada de monstruoso nisso.

Querer submeter um bebê a padrões estéticos eurocêntricos é querer que ela esconda suas origens, porque essas são aparentemente não convencionais e não encontro outra palavra pra definir que não seja racismo.

Uma amiga em um post do seu Blog Reapresentando Cores usou um termo interessante: "Ativismo de Cabelo". Muita gente pode não entender a necessidade de estarmos o tempo todo afirmando que cabelos crespos não necessitam ser "domados", não estamos carregando nenhum animal raivoso em nossas cabeças (às vezes eu queria que ele fosse pra abocanhar pessoas que acham certo criar uma petição online para pedir que uma criança de 2 anos penteie seu cabelo). Falaram para "pentear para baixo", "prender com um arquinho". Bom, vou contar pra vocês a realidade de uma criança de cabelo crespo, vou contar a realidade que graças a Deus não é a da Blue, caso fosse não causaria tanto incômodo. Nossas mães na tentativa de deixar com a aparência que determinaram como "boa", penteavam nossos cabelos muitas vezes a seco, causando uma tremenda dor, desembaraçavam e prendiam todo pra trás, nossos olhos chegavam a ficar puxados. Mas okay, nosso crespo socialmente inaceitável, estava domado, era o que esperavam da gente até que chegasse uma idade onde finalmente poderíamos fazer usos de químicas altamente corrosivas, ferros quentes e assim tentassem embranquecer nossos traços.

Recebo mensagens de amigas professoras falando que cada vez mais cedo percebem que as mães buscam procedimentos químicos para alisarem ou relaxarem os cabelos de suas crianças. Eu acho um ato criminoso, porque além de fazer mal a saúde, faz mal a identidade. Essa criança vai crescer entendendo que alisar é o procedimento padrão, que é tão natural quanto se alimentar. Por isso muita gente não considera racismo falar de cabelo, diz que é questão de gosto. Não é estranho ser senso comum considerar justamente um determinado tipo de cabelo como ruim? Não é estranho que o bom seja aquilo que seja mais próximo de uma característica branca?

Sabemos que a população negra enfrentam vários outros desafios sociais, que muitos consideram essa questão de cabelo como secundária ou como algo que nem há necessidade de ser abordado. Mas o corpo é aquilo que somos e essa relação precisa ser bem desenvolvida. O racismo desumaniza, nos faz criar rejeição pelo nosso próprio corpo. Os padrões de beleza cerceiam a liberdade a ponto de atingir uma criança que não deve ter preocupação com cabelo ou qualquer outra coisa. Que mais mães tenham consciência de que o cabelo tem forte significado na construção da identidade da pessoa negra. Que ninguém mais tenha que se envergonhar pelo seu corpo livre de padrões.

E sim, seremos ativistas de cabelo enquanto for necessário.


Bruna de Paula Pereira

8 comentários:

  1. Olá Bruna,
    super legal teu texto, li em outro espaço, ia comentar, mas ai vi teu comentário e vim aqui parabenizar a versão original. Por muito tempo eu pensei que esse não era um aspecto relacionável, mas sim é. Depois que realmente me dei conta que meu cabelo é lindo, tendo cachos ou não, armado ou não, depois que eu me senti livre com o que eu sou percebi que era presa na química anteriormente. Depois de desfrutar a liberdade eu me dei conta não só que eu era presa, mas que vivia um racismo "ambiental" que eu não percebi e por isso sempre dizia não me sentir discriminada. Existe um ocultamento desse pensamento que está intrinsecamente na mente de brancos e negros, debates como este são importantíssimo!

    Abraços!

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  4. Oi Bruna, afinal o post é seu? Parabéns!!!! Entãoo é justo, que eu publique a minha resposta, também aqui. Desculpa-me se cancelei duas vezes, foi porque achei necessário concertar algumas coisas!



    Gostei do post!!!
    Conheço uma italiana, que é branca, assim como o marido. A filha deles de 3 anos tem os cabelos bem cacheadinho, mesmo!!!! Ela "penteia" os cabelos da menina, para deixar a criança livre. Ela diz , " para quê oprimir minha filha todos os dias esticando os cabelos, dela? " Amei a resposta, dela!!!!

    Lembra, que antigamente no Brasil chamavam os cabelos "duro" ou cacheados, de"cabelo ruim"???? A gente, cresceu pensando, que era verdade!!!

    Porém, uma tempo atrás ninguém apreciava boca grande., mas hoje todo mundo quer ter uma boca grande!!!!!

    O meus cabelos são lisos, mas uma vez, quando eu era criança, fiz permanente para, cachea-los. O resultado foi um desastre... fiquei uns dias black e na moda... mas dias depois os meus cabelos caíram!!!!!!! Atualmente, isso não aconteceria!

    Hoje sou uma que varia muito a cor dos cabelos, que vão de loiros a ruivos e de lisos a cacheados. Amo, modifica-los!

    Penso, que ser livre é poder fazer o que quiser com os cabelos!!! Sem ser presos a preconceitos ou ideologias! Isso é que chamo de liberdade!!!!

    Apesar de compreender e concordar, que para nos liberar e liberar os nossos filhos dessas opressões mentais, precisamos tomar atitude radicais!


    Porém, lembrando sempre de ser livre mentalmente: você é negro quer alisar os cabelos, que alise!!!! Você é branco, quer encrespar os cabelos, que encrespe!!! O importante é se amar, como é ou como quer ser!!!!


    Meu sobrinho, também de 3 anos, tem cabelos pretos e bem cacheados!!!! Elogiamos, sempre ele e os seus cabelos, que lindos!!! E são, mesmo!!!
    Resultado, ele n~o deixa ninguém meter a mão para tirar ou amaçar os cacheados(redondinhos, como ele chama) dele!!!!

    Elogie, sempre os seus filhos!!!! Em tudo, na beleza, na inteligência, etc.

    Beijos, meninas seja lindas... Amem-se e amem os seus cabelos lindos, que você é perfeita, como Deus te fez!!!

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  5. Bruna, parabéns, pelo texto. Precisamos conversar mais, estamos em um grupo de ativismo desde que o sr. Fausto Silva agrediu a dançarina Arielle em seu programa, se puder nos curta e trabalhe conosco .
    E, MMaria, suas colocações são ótimas, precisamos libertar nossos corpos e nossos cabelos, sim, por isso textos e engajamento como os da Bruna são importantes. Só para lembrar, ainda se chama de "ruim" o cabelo que não é liso. "Nosso cabelo não é ruim e duro é ter de suportar o racismo". Seguimos.

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    1. Olá, por favor me mande o link da página de vocês para que eu possa curtir. Obrigada
      abraços!

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  6. Olá Bruna!
    Venho parabenizar você pelo texto maravilhoso, esclarecedor e acima de tudo libertador. Vou divulgar em todas as minhas redes, há muita gente precisando dessas palavras para agir em nome de si mesmo.
    Obrigado!

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