segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Eu mulher, resisto



Eu mulher,
Eu mulher nascida
Eu mulher criada
Eu mulher crescida
Eu mulher menstruando em silêncio
Eu mulher tendo nojo de menstruar
Eu na classe média tendo acesso a absorvente
Eu mendiga na rua, sem higiene para menstruar
Eu mulher nas dores da depilação
Eu mulher ensinada que é normal sofrer
Eu mulher, tentando ser beleza padrão
Eu mulher, sem poder ser feminina na prisão

Eu mulher atacada por lutar
Eu mulher apanhando sem denunciar
Eu mulher sofrendo calada
Eu mulher sendo julgada
Eu mulher procurando programa na esquina
Eu mulher vadia
Eu mulher dona do meu corpo,
dona do meu sexo
Eu mulher negra, obrigada a minhas raízes alisar
Eu mulher, que decidi encrespar
Eu ao meu pai submissa,
Eu migrando da submissão ao pai, para o marido
Eu mulher nos bancos da universidade
Eu mulher em busca de igualdade
Eu mulher mãe, com filhos pra criar

Eu mulher doméstica, cuidando da madame, sem poder da minha casa cuidar
Eu mulher, dona da minha subjetividade
Eu mulher com a sociedade a me culpar
Eu mulher tendo meu corpo violado sem gritar
Eu mulher me justificando por ter sido violentada,
Eu mulher, por estar de short, sou acusada
Eu mulher sem medo às 4 da manhã indo ao emprego
Eu mulher e o não reconhecimento das minhas potencialidades
Eu mulher, me exigem sensualidade

Eu mulher que dou no primeiro encontro
Eu mulher que escolhi esperar
Eu mulher chorando de saudade
Eu mulher almejando liberdade
Eu mulher querendo união
Entre minhas iguais buscando compreensão

Eu mulher ainda que não biológica
Eu transsexual, sou mulher
Eu mulher destruindo o patriarcado
Eu mulher lutando para que o machismo seja coisa do passado
Eu mulher quando sobrevivo, resisto
Eu mulher, sou pedaço de você
Você mulher, pedaço de mim
No dia que você perde, eu perco
A sua dor, é minha
O que pensam sobre você
Pensam sobre mim
Eu mulher e uma reflexão:
É só na solidariedade entre as iguais que alcançaremos igualdade, na nossa desunião, se fortalece o patriarcado. Não legitime em tempo algum que a mulher não merece valor e respeito, não interessa o que ela tenha feito. E se o que ela fez for crime, ela deve ser julgada perante a justiça e cumprir sua pena.



Bruna de Paula Pereira.

Agradecimentos especiais as lindas que cederam suas fotos, na ordem: Patty Capetyne, Fernanda Montanaro, Fabiane Dias, Rosângela José e Camila Rodrigues.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Crespxs do mundo, uni-vos

Participo desde outubro de 2012 dos grupos de cacheadas no facebook, vejo que diariamente o crescimento de meninas que resolvem se libertar das químicas e recorrem a esses grupos como forma de buscar apoio, inspiração entre as iguais. Nesses grupos, vemos muitas meninas conscientes politicamente e que transformam esse ato de assumir o cabelo em uma forma de fazer movimento, mas nos grupos também existem as meninas que defendem o discurso que "o racismo é coisa da sua cabeça", dizem que as companheiras "vêem racismo em tudo", "tudo hoje em dia é racismo". Pensando nessas coisas que cansamos de ler no dia a dia dos grupos, eu acabei escrevendo essa reflexão e compartilhando no grupo.

SER NEGRA, CRESPA, CACHEADA E DECIDIR SE ASSUMIR, É UM ATO POLÍTICO. SE POSICIONEM CONTRA O PRECONCEITO! ELE É REAL, ELE NÃO É UM CONTO DE FADAS!
O preconceito, o racismo não é imaginário, ele não é feitiço "só pega em quem acredita", ele atinge a todos, quem acredita e quem não acredita.

O racismo é uma estrutura, não é apenas um ato. Os atos de racismo são apenas maneiras de manutenção dessa relação de poder. 
O racismo está em dados estatísticos, está nas celas de prisão, no número de jovens negros mortos, no número de crianças negras que se desenham brancas, na ausência dxs negrxs na mídia.
Um ato de racismo não é determinado apenas pela sua forma gritante, quando alguém te chama pejorativamente de negrinha ou de macaca, quando alguém diz que preto fede, quando alguém diz que seu cabelo é ruim. O racismo está presente nas formas sutis de discriminação, nas piadas de mal gosto, no oprimido que ao propagar e rir dessas piadas apoiam o opressor. 




O racismo tá em mim, tá em você, fomos criados em uma sociedade racista e que nos fez acreditar no mito da democracia racial, nos fizeram acreditar que todos somos tratados como iguais. O racismo não é coisa da minha cabeça, eu já o senti na pele, fingir que eu estava vendo coisa onde não tinha, só permitiu que ele se propagasse. No momento em que eu me calo, eu apoio a opressão. 
Eu escolhi me posicionar, não vou mais me calar diante das opressões aos cidadãos que são minorias em direitos sociais. Se você me acha louca, vá ler as estatísticas, se informe, estude e lute, por que o fato de não ter acontecido com você, não significa que outros não sofram com isso. Estejam atentas as formas sutis que o racismo se apresenta para você e você não reconhece.

Meu nome é Bruna de Paula Pereira, sou negra, professora, futura pedagoga, feminista e luto pela igualdade social, uma igualdade que promova direitos iguais a partir da compreensão das diferenças. Feliz 2014!