terça-feira, 27 de março de 2012

Tomates e a grande diferença entre opinião e discriminação

Eu não gosto de tomate. Desculpas a todos aqueles que apreciam esse fruto, mas eu não gosto. O sabor não me agrada, a consistência me deixa enjoado. Convivo bem com pessoas que gostam de tomate, entendendo que pessoas são diferentes e tem gostos diversos.
             Bem, eu tenho a opinião de que tomates não são alimentos gostosos. É algo que serve para mim, para meu paladar.
              Agora você imagine que, num determinado momento, eu passe a acreditar que não é bom para ninguém comer tomates. Posso inclusive fazer uma pesquisa para achar alguma substância no tomate que faz mal para algo em nosso corpo e usar isso como argumento. Mesmo que essa tal substância tenha que ser ingerida em doses cavalares por dia para causar algum mal em longo prazo, que esse efeito não seja o mesmo devido ao metabolismo de cada um e mesmo assim sem base concreta para essa afirmação. O fato, para mim, é: tomates não são bons.



            E não somente passo a achar isso, mas passo a pregar minha opinião, inclusive recriminando e discriminando pessoas que insistem em comer tomates. Se mesmo após todas as evidências (ainda que duvidosas) que eu apresentei, a pessoa permanece comendo tomates, ela vai merecer o câncer no pâncreas (esqueci de dizer que esse é o efeito da ingestão de tomates apontado na minha pesquisa). Eu passo a desejar que eles tenham câncer para, quem sabe, bater arrependimento e deixarem de comer tomates. Essas pessoas passam a ser uma má influência! Elas estarão estimulando pessoas a comerem tomates. Elas devem ser, então, exterminadas.
            Eu então proíbo que se tenha qualquer material que fale sobre tomates nas escolas. Proíbo pessoas que comem tomates de se casarem, pois essa união gerará uma nova geração de pessoas que comem tomates, mesmo que nada prove que essa influencia pode acontecer, seja genética ou psicológica. Acredito que se deva baixar o porrete nessa gente, pois é óbvio que elas só comem tomate para ir contra ao que é certo! Não me importo que elas sejam expulsas de casa, da escola, que não consigam colocação no trabalho, ou mesmo que sejam mortas em ataques motivados por discriminação. Elas pediram isso. Quando elas lutam pelos seus direitos eu as ataco, e acredito que estou sendo vítima de preconceito por apenas querer expor minha opinião! Desenvolvo curas para que deixem de comer tomates, para que sejam normais como eu. E quero fazer isso livremente, pois estamos em um país livre onde todos tem liberdade de expressão. Não me importa que meu discurso possa vir a trazer ainda mais mortes, sofrimento, discriminação. O direito a opinião é sagrado.

            Acordando dessa viagem, alguém notou alguma similaridade com algo que vivemos? Então, para esclarecer: opinião foi até o ponto onde eu disse que tomates não servem para o meu paladar. Depois disso, passou a ser discriminação. E é dever do Estado, segundo a constituição, garantir a igualdade aos cidadãos e o combate a qualquer forma de discriminação.

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

Por Daniel Vieira



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